NIYAMAS: princípios que moldam a personalidade

Niyamas
Niyamas

Na mesma linha dos Yamas, Patanjali, em sua obra “Yoga Sutras”, apresentou-nos outros passos necessários para nossa evolução humana. Os chamados niyamas podem ser interpretados como princípios que moldam nossa personalidade, auxiliando-nos a lidar com nosso ego para que possamos desfrutar do campo de consciência ilimitada. Enquanto os yamas orientam nossos relacionamentos com o meio em que vivemos, os niyamas são traduzidos como preceitos éticos individuais. Até que ponto respeitamos nosso próprio organismo? Como nos relacionamos com nossos próprios sentimentos?

Shaucha

O primeiro niyama, shaucha, representa a pureza. Devemos manter nosso organismo puro, limpo, para transcendermos nossa mente limitada. A referida pureza está relacionada com toda a forma de alimento que nos nutre. Alimento aqui deve ser interpretado como toda e qualquer situação que possa nutrir tanto o organismo biológico, quanto a nossa mente e alma. Ou seja, não estamos falando apenas de comida, mas também de boas leituras, limpeza das vias respiratórias, celebrações com amigos e familiares, contato e cuidado com a natureza, a sensação de ter produzido algo, uma conversa enriquecedora, dentre outros alimentos.

Cada informação que nos chega através de nossos sentidos será processada e armazenada em nosso cérebro, limpando-o ou intoxicando-o. Por isso, devemos estar atentos ao que estamos ingerindo, aos hábitos que adotamos, ao que estamos levando até nossa mente, de forma que a mesma não seja poluída. A limpeza do corpo e da mente criará condições mais favoráveis para nos aproximarmos de nossa alma.

Samtocha

O segundo niyama, samtocha, representa o nosso contentamento ou satisfação. Está relacionado ao primeiro niyama, afinal a limpeza gera uma sensação de bem-estar. Trata-se da nossa habilidade de cultivar uma alegria interna, a qual não se deixa abalar pelos acontecimentos externos.

O contentamento interno nos dá forças para encarar todos os desafios que a vida nos manda. Estes passam a ser vistos como necessários ao nosso crescimento e aprendizado. Tudo depende, pois, da maneira como vivenciamos cada momento de nossa vida.

Não devemos permanecer no passado, e nem deixar que a ansiedade nos projete para o futuro. Praticar a aceitação do momento presente transforma nossa percepção do mundo, porque nos empenhamos para fazer aquilo que está ao nosso alcance, com a consciência de que os resultados de nossas ações nem sempre dependem de nós. Essa postura otimista traz alívio e alegria.

Tapa

Tapa, o terceiro niyama, representa a disciplina ou o constante esforço que devemos fazer sobre nós mesmos. Dentro de cada um de nós há uma chama ardente, uma energia que nos move. Para nos movimentarmos na direção que tal chama indica, no entanto, devemos nos livrar de condicionamentos mentais que nos corrompem e atrapalham nossa relação com ou outros.

Podemos nos libertar de tais condicionamentos através de um empenho diário, mediante a adoção de práticas que estejam em consonância com uma vida saudável: meditação, boa alimentação, prática regular de atividades físicas e uma revigorante noite de sono. Esses hábitos aumentam nossa sensibilidade e percepção, para que identifiquemos quando a mente está “jogando contra”. O esforço para que nossas ações se sobreponham às tendências da mente criam bases para vivermos uma vida mais equilibrada.

Svadhyaya

O quarto niyama, svadhyaya, representa o autoconhecimento. Segundo esse princípio devemos ser eternos observadores e curiosos de nós mesmos. Olhar para dentro nos proporciona a sabedoria fundamental para sermos felizes. Isto porque, devemos prestar atenção ao nossos padrões comportamentais destrutivos para poder interrompê-los.

Muitas vezes nos confundimos com nossos pensamentos, o que nos limita e distorce nossa visão de mundo. Na medida em que buscamos leituras e práticas que nos fazem lembrar de como nosso ego tende a atuar, desenvolvemos mais ferramentas para controlar seus impulsos. Aprendemos a agir de forma mais consciente e menos condicionada.

Ishvara pranidhana

Ao nos aprofundarmos em nós mesmos, nos damos conta de que somos uma pequena partícula integrante de um todo. Ou seja, existe uma força muito maior do que nós, a força do universo, a força Divina.

Patanjali, através do quinto niyama, ishvara pranidhana, nos orienta a adotar uma postura de devoção, de entrega do resultado de nossas ações à essa força maior. Tornamo-nos mais seguros pela compreensão de que os resultados de nossas ações dependem de uma vontade suprema, que prevalece à nossa.

Por fim, a percepção de que integramos uma coletividade nos torna mais cuidadosos e amorosos em relação aos demais seres. Faz com que passemos a atuar como instrumentos da força criativa do universo, dando continuidade à construção do mundo em que vivemos.

Os niyamas, portanto, sugerem que nos voltemos para nossas esferas física, mental e espiritual, com vistas a harmonizá-las através da adoção de práticas e hábitos que têm como finalidade interromper o ciclo de nossos condicionamentos destrutivos.

Temos a possibilidade de alterar nosso referencial interno, substituindo ações egoístas por ações altruístas. O interessante é procurar seguir os princípios sem se culpar ou julgar, caso não cumpramos com a orientação. A vontade e o empenho em persegui-los já criam uma atmosfera propícia ao aumento de nosso bem-estar.

 

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