O início de um novo ciclo sempre nos faz viajar na ponte que liga o passado ao futuro. Muitas vezes, ficamos indo e vindo, fazendo análises e tentando encontrar respostas para acontecimentos que, simplesmente, tinham que acontecer e ponto final.
E é muito comum começarmos estas reflexões com a expressão “e se” (e se eu tivesse feito; e se eu não tivesse falado…) e, sem percebermos, estamos presos à culpa, que gera medo, que induz à ansiedade, que ativa o instinto de proteção e transforma o coração em uma redoma inacessível. Resultado: acabamos nos enganando, achando que estamos iniciando um novo ciclo, quando, na verdade, estamos paralisados e estagnados para não gerarmos mais o que achamos ser culpa. O padrão comportamental permanece o mesmo.
E, sem compreender toda esta engrenagem interna, as pessoas se perguntam porquê as coisas não mudam em suas vidas. O conselho é sair da rotina emocional e espiritual e experimentar outras sensações.
Desta vez, as minhas reflexões foram mais intensas que o de costume. Me flagrei me perguntando o que faria se soubesse que só haveria um mês de vida terráquea, como aquela música do Moska.
Até tenho visto reportagens sobre pessoas em fase terminal que realizam os seus sonhos casando em hospitais ou que deixam cartas com conselhos sobre o valor da vida. Pois é, muitas pessoas devem fazer a mesma pergunta.
Foram muitos questionamentos internos: teria algum lugar que gostaria muito de ir? Alguém para pedir perdão? Alguém para dizer que amava? Algum trabalho a realizar? Alguma aventura para me jogar, no estilo daqueles filmes americanos em que o sujeito resolve viver em um mês tudo o que não viveu em mais de 40 anos?!
Confesso que, primeiro, pensei com o racional, com o ego, com aquele que me engana, que me ilude, que me oferece um pacote de dúvidas, diariamente. Quando comecei a fazer uma listinha, parei para avaliar e ativei a consciência. Meditei com o coração, acalmando a mente, ignorando o ego e deixando fluir as sensações e os sentimentos. Aos poucos, as energias do amor e da gratidão foram me preenchendo e senti que a minha alma estava sorrindo, feliz.
Ao despertar, eu tinha a resposta: estava pronta para desencarnar. Observe que estar pronta não significa desejar morrer. Pronta, neste caso, é saber que vivo com o meu melhor: ofereço o melhor e recebo o melhor, nada de esmola.
Não acumulo inimigos, abasteço as amizades, alimento os relacionamentos de mãe, mulher e família com muito amor.
Aceito os meus tropeços, evito julgar por não me achar nem melhor, nem pior que os outros, afasto e ignoro as energias ruins, espalho as boas, me permito dar muitas risadas de coisas bobas, choro de emoção e converso com todos os seres, inclusive com as plantinhas.
Sobre um lugar que deveria conhecer se só me restasse um mês, não obtive a resposta. Adoro viajar, desde que seja com a alma, com os olhos curiosos pelo desconhecido e com o coração aberto para as diferenças. Com o tempo, aprendi que a melhor viagem é aquela que permanecemos em paz e em gratidão. O importante é estarmos bem onde quer que estejamos, seja no lar, na roça ou no exterior. Aos poucos, percebemos que a melhor viagem que nos foi dada foi a vida.
Então, o lugar que escolheria estar seria ao lado daqueles que amo. Tem lugar melhor?