O Brasil está em crise. Situação econômica conturbada, taxa de desemprego elevada, pessoas morrendo por conta da ausência de assistências básicas.
Para coroar a turbulência e desafiar ainda mais a esperança da população brasileira por um progresso, todos os dias o noticiário nos conta sobre o envolvimento dos supostos representantes do povo e dos grandes empresários do país em esquemas de corrupção alarmantes.
A tremenda ganância que move os envolvidos nos choca e nos obriga a refletir: como chegamos a tal nível de desconsideração pelo próximo?
A corrupção pode ser definida como uma atitude através da qual busca-se obter certa vantagem às custas de outra pessoa. Isto é, há a figura do(s) beneficiado(s) e a figura do(s) prejudicado(s).
Apesar de criticarmos muito a atuação de nossos governantes corruptos, nós, de alguma forma, compactuamos com a corrupção. Isso mesmo. Em diversas situações do cotidiano, sem nos darmos conta, assumimos o papel do corruptor, do corrompido ou daquele que é conivente com o ato.
Contudo, em se tratando das nossas “pequenas” corrupções cotidianas, não é raro os possíveis prejudicados pela ação passarem despercebidos. Por se tratar de situações sutis, não nos atentamos à corrupção inerente ao nosso comportamento.
O famoso “jeitinho brasileiro”
Com o passar do tempo, desenvolvemos o mau hábito de transformar atitudes incorretas em aceitáveis. O famoso “jeitinho brasileiro”, traço da nossa identidade cultural, é um exemplo clássico de como somos capazes de burlar normas.
Muitos estudiosos se preocupam em analisar tal conduta. Alguns apresentam concepções positivas, na medida em que o “jeitinho” pode revelar nossa capacidade de improvisação, flexibilidade e criatividade para solucionar problemas inesperados. Outros, contudo, apresentam concepções negativas: a prática também revela nossa habilidade de enganar terceiros para obter benefícios pessoais.
Fato é que nos acostumamos a agir de forma corrupta. Sem notar a presença da corrupção e das possíveis consequências prejudiciais, assumimos condutas que nos tragam vantagens pessoais. Ou até temos noção da corrupção que reveste o ato, mas a julgamos irrelevante.
Pequenas corrupções
Vejamos como exemplo uma situação hipotética: um pai, a fim de que seu filho, uma criança, melhore seu desempenho escolar, lhe faz promessas habituais de que comprará presentes caso o filho se dedique mais aos estudos.
Você pode estar se perguntando de que forma a corrupção se apresenta nesta hipótese. Mas, essa espécie de incentivo é muito perigosa. O filho é um ser humano imaturo, em processo de formação, pouco ciente da importância de se tirar uma nota maior ou menor em uma avaliação. Logo, as constantes promessas feitas pelo pai podem influenciar o psicológico da criança.
A ação do pai, ainda que sem intenção, e de forma muito sutil, corrompe a criança. Isto porque, ele oferece algo em troca de um comportamento que espera do filho. Sem falar que aquele indivíduo pode se desenvolver achando completamente normal a corriqueira atitude de se oferecer benefícios para que outras pessoas façam o que ele deseja. Ou achar normal a atitude de cobrar benefícios para fazer o que outras pessoas esperam dele.
Gera-se um estímulo inconsciente para que o filho repita um padrão de comportamento que pode vir a ser prejudicial para a sociedade.
Outro exemplo mais evidente de corrupção presente no nosso dia a dia: a legislação de trânsito prevê que o motorista que for penalizado com vinte pontos em sua CNH, num intervalo de doze meses, tenha seu direito de dirigir suspenso por um período de tempo e que ainda passe por um curso de reciclagem.
Quando levamos uma multa de trânsito, pois, e transferimos a responsabilidade para outra pessoa, agimos de forma corrupta. Burlamos as normas legais, a fim de não ter nosso direito suspenso.
Provavelmente, a elaboração da norma parte do princípio de que o motorista constantemente penalizado deve aprimorar suas habilidades. Assim, ofereceria menos riscos às pessoas no trânsito. Ou seja, ao desrespeitarmos a regra assumimos uma postura negligente em relação aos demais indivíduos.
Trazendo luz aos pequenos atos
Além dos mencionados exemplos de pequenas corrupções, podemos citar outros com os quais lidamos frequentemente: falsificar atestados e assinaturas; estacionar em vagas especiais; fazer ligação ilegal de serviços como TV a Cabo e energia elétrica; furar filas; subornar policiais; não declarar rendimentos no imposto de renda; comprar produtos falsificados; embolsar o troco que veio a mais, e por aí vai.
O que podemos concluir é que nossas ações, por menores que sejam, podem gerar grandes consequências para toda a comunidade.
Somos partes de um todo, de modo que qualquer comportamento individual repercute nos demais integrantes. Num contexto social onde comete-se repetidamente infrações “menores”, consideradas normais e aceitáveis, cria-se uma estrutura que respalda a prática de corrupção em maiores escalas.
É preciso, pois, verificar com atenção e cuidado se nossas ações estão de acordo com uma ética. Não nos cabe obter benefícios próprios, gerando prejuízos para a sociedade.
Assim, identificado o possível dano decorrente de uma certa atitude, sairíamos todos ganhando se optássemos por deixa-la de lado e assumíssemos uma postura correta.