É muito comum escutarmos frases do tipo: “Problema todo mundo tem ” ou “ Cada um com seus problemas. ”.
Viver uma vida sem problemas pode parecer impossível. Eles supostamente estão por toda parte, seja em nosso ambiente familiar, profissional, no convívio social e no âmbito pessoal.
Mas o que é problema? Se buscarmos o significado no dicionário, vamos verificar que o termo pode ser empregado para fazer referência a questões matemáticas, a um tema repleto de controvérsias, ou a uma situação de difícil resolução.
Para as finalidades do texto, podemos levar em consideração o último significado atribuído ao termo: uma situação de vida que deve ser encarada. Por que caracterizar tal situação como “problemática”?
Ora, convencionalmente concordamos em chamar uma situação de difícil resolução de “problema”. Mas o fato é que não existe o “problema”. O que existe no mundo real é uma determinada situação ou acontecimento, cuja solução pode ser mais ou menos simples.
O “problema” é uma criação da mente baseada na forma através da qual a mesma interpreta essa situação. Tanto é que o acontecimento será “problemático” para uma pessoa, mas não para outras.
A tendência da nossa mente é julgar, interpretar, atribuir significados ou qualidades, e buscar razões. Isto é, tudo que ocorre em nossa vida recebe o rótulo mental de “bom” ou “ruim”.
No entanto, tais interpretações são ilusões, ou seja, elas não existem na realidade. Não passam de criações mentais.
O que é real é a situação de vida, que por mais traumática ou destrutiva que possa parecer, continua sendo uma situação com a qual teremos que lidar.
Tomemos como exemplo o caso hipotético: uma pessoa acaba de perder seu emprego. A sua mente tratará logo de lhe enviar uma série de mensagens, como: “Não terei mais condições de pagar a escola dos meus filhos”; “ Me faltará dinheiro para arcar com as despesas da casa”; “Não será possível continuar pagando o tratamento da minha esposa” etc.
Esses pensamentos serão causa de prováveis sensações de tristeza e desespero, as quais farão com que a pessoa enxergue o acontecimento como “problemático”. No entanto, trata-se de possíveis consequências inventadas pela mente, que não necessariamente irão se concretizar, são apenas hipóteses.
Já que não são reais, isto é, só existem na nossa cabeça, por que acreditar nelas? Não é preciso se deixar envolver pelas projeções e pelos sentimentos negativos gerados por elas.
Temos sempre a possibilidade de agir para transformar uma situação incômoda.
No exemplo dado, a pessoa ao invés de se lamentar e permanecer sofrendo por conta das projeções mentais, poderia enviar seu currículo para o maior número de empregadores possível, iniciar alguma atividade que lhe desse um retorno financeiro, recorrer a um banco, amigos ou parentes para pedir um empréstimo.
Nossa mente a todo momento nos traz traços de memória que nos prendem ao passado, o que pode vir a ser um “problema” para vivermos o presente. Ou faz projeções que nos lançam a um futuro irreal, podendo gerar sentimentos negativos.
Felizmente, não precisamos acreditar em nada disso. Podemos passar a atuar como observadores das situações de nossa vida, sem sermos dominados pela tendência julgadora da mente.
A situação deixa de ser “problemática” quando deixamos de nos identificar com as criações da mente e com a sua tendência de resistir àquilo que ocorreu de forma inesperada ou não planejada. O que é real é o que, de fato, aconteceu.
A resistência nos ilude, na medida em que nos afasta da realidade. Para isso, é preciso aceitar que a situação existe. Este é o caminho para não fugirmos do mundo real. Contudo, aceitação não implica na adoção de uma postura passiva diante da situação incômoda. Não só podemos, como devemos agir para nos retirar dela ou transformá-la.
Ao adotarmos uma postura ativa, buscando solução para a situação, a ilusão do “problema” desaparece, afinal deixamos de vivenciar as criações mentais e colocamos nosso foco inteiramente na ação que podemos tomar no momento presente, o único que existe, onde não há sofrimento.
Paramos de nos lamentar e nos colocamos em movimento. Além disso, as atitudes que tomamos para modificar nosso momento atual passam a ser mais eficazes quando percebemos que não precisamos nos identificar com o que nossa mente nos diz. Isto porque, a energia anteriormente gasta com preocupações passará a ser usada como combustível de nossas ações concretas.
Em suma, não é preciso caracterizar uma situação incômoda como “problemática”.
O modo como a enxergamos depende de como nos relacionamos com nossa mente. Podemos encara-la como algo ruim ou como um desafio a ser enfrentado para nos trazer crescimento e aprendizado.
Somos nós que escolhemos a maneira de lidar com cada situação de nossa vida, é dizer, podemos optar por chamá-la de “problema” ou atribuir-lhe outro significado.
Sabendo que a mente sempre interpreta as situações e que tais criações não existem no mundo real, não somos obrigados a nos ater a elas. Aceitamos o nosso momento, e se estivermos incomodados, tomamos as medidas possíveis para nos retirarmos dele.
As frases rotineiras mencionadas no início do texto, portanto, deveriam ser reescritas da seguinte forma: “Interpretações toda mente faz” ou “Cada um com suas criações mentais”.